quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Arreglo de Maria Maria


Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre.
Quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida.
tudo isto tem que ver com um suplício chinês que reveza seus quadros em disposições geométricas pode não parecer mas cada palavra pratica uma acupunctura com agulhas de prata especialmente afiladas e que penetram um preciso ponto nesse tecido conjuntivo quando se lê não se tem a impressão dessa ordem regendo a subcutânea presença das agulhas mas ela existe e estabelece um sistema simpático de linfas ninfas que se querem perpetuar por um simples contágio de significantes essa torção de significados no instante desse deslizamento de superfícies fônicas que por mínimos desvãos criam figuras de rociado rosicler et volucres veneris mea turba columbae mas é também um suplício chinês a vítima entre lâminas eróticas que cortam sem cortar tão finas como plumas passando entre rodízios tinguunt gorgoneo de vento o sangue não aflora contido em capilares preso em paredes venosas cuja textura punica rostra lacu não foi afetada ou foi mas se mantém tacta e intangida intangida depois um impulso um sopro um alento um deslocar de coluna de ar e a cabeça rola rompido seu instável equilíbrio por uma exígua navalha de éter mas é você lapso e relapso você quem move os gonzos desse acaso os ábacos desse jogo de avelórios um homem-pena como diria summus juice me poenitet homopluma ele está sentado ratoneiro de ratoletras e não se manca de seu esterco dourado uma sopa de letrias que baba como bulha-à-bessa alhos migalhas bugalhos o argueiro no olho alheio a trave no olho nosso a carocha o caroço o osso o caruncho tudo isso e mais chicória alfavaca alperche alquequenje alius aliter fervem nesse caldo de nostradremo futurando o postrêmio assim quando ele tem cólica de rins e vai-se ver e é uma cólica de runas uma melancólica de belasletras deletreadas em tritos detritos a ourina pelos ureteres calcificou um calcário de ur e pelos cânulos ouripingou um ouro-pigmento mais venimoso que sulfurgueto de armênio vademecum vaderetro sassafrásio ele esta personagem non grata tendo o livro por menagem se compraz em crisoprásio atende pelo vulgo de bocadouro e pelo invulgo de crisóstomo enquanto excreta crispando-se seus crisólitos crisográficos ninguém se espante porém como tais crocidismos crocodilares quando estiver deveras extremungido e limpo de letras e lastros vai fazer o morto mudo e mouco feito um oco então nostrademo cacofante descriptará os renogramas pétreos cacata carta na frase de catúlio cat-face e se ouvirá o seu trestemento acolhido por uma palma de salvas fiat jus era uma vez o entremez do último céu que vem a ser o céu do céu caem esses fios de luz que se prendem entre o visível e o invisível poderia ser hagoromo o manto de penas urdindo-se da luz dançada pelo anjo ou um vento que deixasse congelar suas arestas seus vértices seus vórtices em profilaturas filiformes o âmbito tem qualquer coisa de estelário nas lucilações provocadas por um desgarre súbito de pontos migratórios depois não se vê mais nada porque a vista pára num poro entre visto e invisto onde o visível gesta vai daí a cabeça rompido o equilíbrio rompido o equilíbrio descabeça e cai


tudo isto tem que ver:
O livro se autodescreve à imagem de um suplício chinês. As "ninfas" de Mallarmé viram linfas de um sistema simpático que subjaz ao texto e o rege. Versos de Propércio, famosos por sua magia fônica (et volucres Veneris, mea turba, columbae/tinguunt Gorgoneo punica rostra lacu, "e os pássaros de Vênus, o meu bando, pombas / tocam o lago - bicos vermelhos - Gorgôneo"), intercorrem, como que evocados pela imagem do sangue contido em capilares. Segue um retrato (à maneira de James Joyce/Summus Juice) do artista-ratoneiro em suas atividades escriturais/excrementais (intervém o poeta Catulo, na sua alusão estercorária a cacata carta). Depois desse "entremez" burlesco-infernal, um momento paradisíaco: o manto de plumas do anjo-donzela do céu de Buda - o hagoromo - deixa-se cair do "céu do céu", assim como, nesta operação de texto, neste mágico ábaco de significantes, "a cabeça rompido o equilíbrio descabeça e cai".

domingo, 30 de novembro de 2008

"Aquí me pongo a cantar
Al compás de la vigüela
Que al hombre que lo desvela
Una pena estrordinaria,
Como la ave solitaria
Con el cantar se consuela."





segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Foi num dia 24 de Novembro como este que Freddie Mercury faleceu, no ano de 1991.
FM dispensa apresentações, deixarei aqui apenas uma curiosidade:
Mercury, na verdade, chamava-se Farrokh Bulsara e era natural do arquipélago de Zanzibar, na costa da Tanzânia.
Who could say that?

Well done Freddie!

domingo, 9 de novembro de 2008

"Yo sé que muchos dirán
que peco de atrevimiento
si largo mi pensamiento
pal rumbo que ya elegí,
pero siempre hei sido ansi;
galopiador contra el viento."

Se viene el payador moderno...